domingo, 4 de março de 2012

A verdadeira arte do cuidar.

"O ensinar a condição humana, não poderá ocorrer sem que se aprenda a ouvir e olhar de forma diferenciada para os medos e ansiedades presentes em contextos específicos e cotidianos".

É com esse fragmento de um dos muitos textos do livro "Cuidado do emocional em saúde" que inicio a minha publicação de hoje, afinal é sobre o conteúdo desse livro que irei falar.

A minha professora de Ética e Legislação em Enfermagem ( que é uma fofa) nos indicou esse livro para ler, por instante eu pensei: Porra, com tanta matéria para estudar, mas vamos lá.
Já no primeiro texto do livro, me arrependi amargamente de ter cogitado a ideia de não ler ou de ler por ler mesmo, o livro é maravilhoso, relatos reais de uma profissional na área da saúde, Enfermeira, Psicóloga e Pedagoga, nesse livro ela relata acontecimentos desde a formação acadêmica em enfermagem até a formação acadêmica em psicologia.
Me emocionei, me revoltei e sorri diversas vezes durante a leitura, todos deveriam ler, leigos, profissionais, esse livro é mais que parte de uma formação acadêmica é um ensinamento de vida, que nos dá esperança, que nos faz acreditar que existem pessoas do bem sim, pessoas dispostas a lutar pela vida e que acreditam em um mundo melhor de tal forma, que transmitem luz e paz por onde passam.
A seguir umas das histórias contadas no livro:

"Capítulo I O valor das pequenas coisas (Não tão pequeninas)
Lá estava aquele paciente... "Seu Pedro"... Tão fraco... Tão magro... uma expressão de dor...pele amarelo-esverdeada... a cor do final... do câncer... É aquele tipo de visão que incomoda a gente (que é gente). Sofrimento vivo, vampirado pelo câncer que se alimenta do pouco que ainda resta... Cheguei mais perto e um odor terrível invadiu e impregnou minhas narinas: fezes! Ele, com os olhos fechados e uma expressão de profundo sofrimento, desconforto e depressão, parecia não suportar a própria situação. Chamei um dos colegas de equipe de enfermagem e perguntei o porquê do odor tão forte se eu vira o paciente recebendo um banho no leito.
"_Ele está com fístulas prá todo lado. As fezes saem pelo abdome... Não tem jeito".
"_Não dá para dar banho no chuveiro?"
"_Ele não tem força prá ficar sentado".
Cheguei ao lado do leito:
"_Olá... como vai?"
Ele deu um sorriso meio forçado e disse: "é... mais ou menos..."
"_ O senhor já tomou banho hoje?"
"_Ah... ( uma expressão tristonha apareceu) já sim... Agora a pouco..."
"_Pela sua forma de falar me parece que não foi algo que lhe tenha dado conforto"
"_É que esse banho... com esses paninhos, sabe? E a minha nêga vai vir me visitar daqui três horas... Eu queria estar bonito para ela..."
"_O Senhor quer tomar um banho?"
"_Ah... não adianta... Para lhe dizer a verdade, era tudo o que eu queria... UM BANHO DE VERDADE MESMO, de verdade!!!"
( A enfermeira ficou com a cabeça a mil por hora, pensando em dar um jeito de satisfazer a vontade daquele paciente, pegou a maca, um balde, colocou uma roupa do centro cirúrgico, um sabonete bem cheiroso foi a enfermaria, chamou dois auxiliares)
"_ Que tal um BANHO DE VERDADE? Ofereço serviço completo, com direito a desodorante, vamos nessa?"
Eu enchia o balde com água morna e mandava bala. O paciente ria, felicidade completa estampada no rosto...
...Tanta felicidade por uma coisa aparentemente tão pequena - o poder de um banho...
depois de lavarmos o corpo e a alma; o paciente disse:
"_ Sabe de uma coisa? Foi a melhor coisa que me aconteceu nesses últimos meses. Eu não podia aguentar mais. A senhora poderia chamar o padre por favor?"
O padre chegou quase que juntamente com a "nêga".
Ele então pediu que eu ficasse e que, juntamente com a esposa e o padre, acompanhasse a unção dos enfermos. Ele se despediu de nós, e pediu para ficar com a "sua nêga".
Não demorou nem mais trita minutos para que ele se despedisse dessa vida. Seu coração parou de bater"

Sem dúvida essa é a minha história preferida, a persistência dessa mulher para fazer o bem me inspira, me motiva.
Nunca me imaginei "na enfermagem", nunca me imaginei uma enfermeira, as pessoas que me conhecem, sabem que o meu sonho ERA ( eu disse era) estudar comunicação social, ser jornalista, mas os anos foram passando e eu acabei não fazendo nada, me envolvi em radiologia, em administração e até me meti na fotografia e na altura do campeonato não era nada... 
Sempre tive esse espírito pluralista, individualismo definitivamente não combina comigo e foi quando me descobri "ativista" e me envolvi com o Greenpeace e um par de outras ONG's em defesa daqueles que não têm como se defender, foi que me descobri "enfermeira", ok, muitos irão dizer: Mas você está no começo do curso, como pode ter tanta certeza?
Enfermagem é algo que se sente e se encontra.
Estou nessa vida para servir, e o "sentimento" de mudança que sempre pulsou em mim com toda intensidade neste momento está como um vulcão em erupção, mais ativo do que nunca.
Espero poder concluir meu objetivo de vida, ir para África assim que me formar, quero lutar por aqueles que mais necessitam.

"É isso... é preciso dar sentido à vida... ela é curta e muito linda para ser desperdiçada".

Apesar de ter mencionado ali em cima a demora em me encontrar na vida, de certa forma me sinto confortável em questão a isso, afinal estou muito mais madura e me sinto muito mais apta a concluir o meu verdadeiro objetivo que é; Servir à vida, em favor da vida.

"Minhas mãos - um gesto de carinho;
Meus olhos - um olhar de compreensão;
Minha voz - uma palavra de conforto.
E com esses instrumentos eu faço mágica!...
Aquela magia chamada ser enfermeira
e de ser "gente que cuida de gente?
A magia verdadeira...
A magia de fazer Enfermagem."

Aos meus colegas e futuros profissionais em Enfermagem, aos já profissionais em qualquer área, deixo um apelo, devemos lutar pela "humanização", parando para analisar não é difícil perceber que o "mundo" está doente. Os meios para curar o "mundo": DIGNIDADE, RESPEITO, COMPAIXÃO E FÉ.
Devemos ser persistentes em favor do bem, fazer o bem, emitir "luz" é algo indescritível... vocês deveriam experimentar.

"O importante é você procurar viver e deixar viver, ou seja, viver a sua vida com a certeza de que não está prejudicando os outros, pelo contrário, contribuindo para uma sociedade mais justa. Esse, pela minha experiência, tem sido o melhor caminho que encontrei para cuidar do meu emocional: FAZER O BEM, procurar ser compreensiva, revendo meus valores quando piso na bola e, principalmente, sendo eu mesma sem utilizar máscaras no encontro com o outro.
O que se percebe é que precisamos apenas de duas coisas para que a motivação aconteça: de idéias e de vontade de fazer algo!
Não é difícil. É só deixar acontecer.
Acredite no potencial humano!"

Bom para não deixar de ser clichê kkkkkkkk vou colocar aqui a frase da nossa "mãe" a "mãe" da Enfermagem Moderna Florence Nightingale:

"A Enfermagem é uma arte; e para realizá-la como arte, requer uma devoção tão exclusiva, um preparo tão rigoroso, como a obra de qualquer pintor ou escultor; pois o que é tratar da tela morta ou do frio mármore comparado ao tratar do corpo vivo, o templo do espírito de Deus? É uma das artes, poder-se-ia dizer, a mais bela das artes"...

Obrigada Profa. Dra. Ana Cristina de Sá por compartilhar conosco tantas experiências e nos encher de orgulho com o seu bom caráter e a beleza de sua alma, a você o meu eterno respeito. Obrigada a minha professora fofa e linda Simone Soares, pela oportunidade em ler esse livro.



"Nós devemos ser a mudança que desejamos ver no mundo".

Mahatma Gandhi.